As redes sociais são parte integrante da apresentação pessoal, da narrativa da vida e das relações. Já estão tão implícitas na realidade de grande parte das 8 bilhões de pessoas no mundo, que é raro encontrar alguém que não tenha um perfil sequer em uma plataforma, seja ela qual for.
Não dá para negar a quebra de barreiras e a difusão em massa daquilo que se pretende comunicar nas redes sociais. Com a permissão dos atuais algoritmos, o alcance dos conteúdos pode chegar a números impressionantes.
Usam-se as redes para diversas finalidades, mas aqui não vou falar sobre marketing digital e a alavancagem de negócios, mas sim do nosso comportamento como usuário, consumidor e produtor de conteúdo.
Quero dar destaque para o paradoxo das redes sociais a partir do comportamento das ‘pessoas’.
1. A individualidade na multidão
O próprio ato em si de fazer publicações é uma exibição. Por mais que tentemos esconder a nossa necessidade de autoproclamação, ao fazer uma manifestação, um compartilhamento de ideia, ou simplesmente de uma imagem, estamos necessariamente ilustrando a nossa história publicamente. Apenas o ato de publicar algo, já é para mostrar a alguém.
Acontece de pensarmos duas vezes se devemos mesmo fazer algum post com receio do que os outros vão pensar. Vem uma voz que diz “O que as pessoas vão dizer sobre isso?”. Na sequência vem outra voz dizendo “Você não deve se importar com a opinião dos outros”. Mas o que é uma publicação pública nas redes sociais, se não para ter a opinião dos outros?
O que ocorre é que o que buscamos realmente é reafirmar aquilo que pensamos. Não lidamos bem com as críticas. Queremos apenas as pessoas que validam aquilo que pensamos e a imagem que queremos transmitir.
Como diz o sociólogo Marcello Barra “quanto mais individualistas nos tornamos, mais temos necessidade dos outros”. Em outras palavras, quanto mais nos importamos exclusivamente conosco, mais precisamos da aprovação do maior número de pessoas.
Se bem que… parece que fizemos de nós, um negócio, que tem de ser alavancado por meio de um bom marketing de conteúdo.
2. A crítica da utilização na utilização
Nunca antes tivemos um espaço público de alto alcance para nos comunicarmos. Não vou entrar aqui no mérito de verdade ou mentira, nem de censura. Mas sim no fato de termos palanque, numa primeira instância, através das redes sociais, para imprimir nossas opiniões, discutir e compartilhar ideias.
Isso significa que, mesmo se for para eu criar um texto criticando as redes sociais e os consumidores que lá estão (assim como eu estou), posso fazer tudo isso dentro da plataforma ou, pelo menos, utilizar os seus recursos para espalhar mais o meu link.
Então, acaba que eu utilizo a própria plataforma para criticá-la. Uma crítica que não existiria se não houvesse a plataforma.
É contraditório, mas faz sentido. Na verdade faz sentido ser contraditório (paradoxal também).
Eu fico revendo as minhas postagens, avaliando o que publico, o alcance que deu e os cliques no meu link. Ao mesmo tempo, volta e meia escrevo sobre o comportamento das ‘pessoas’ nas redes sociais, como uma forma de crítica e reflexão.
Talvez seja mesmo por isso que eu escrevo: por me identificar, por ser uma ‘dessas pessoas’. E, ao passo que estou sempre em busca de coerência no que escrevo, este foi outro tema que veio mesmo a calhar.
A incoerência faz parte da nossa vida. (Escrevi sobre isso algumas vezes.) Por simples razões: não temos resposta para tudo, mudamos sempre de ideia e estamos em constante reflexão. E que bom ter um ou muitos espaços para compartilhar o que pensamos.
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A necessidade do outro e a necessidade de nós. Não é à toa que as redes passaram a ser parte integrante do nosso dia e nossas relações. Faz total sentido.
Foto: ThisisEngineering RAEng