O Manuel fez uma postagem no seu Instagram que mostrava somente o pé de um passageiro na classe executiva de um voo da TAP sobreposto no braço da poltrona da frente com a legenda: “Esta manhã. TAP. Executiva. Há coisas que o dinheiro não compra!”
Houve muito mais de 77 comentários, unânimes! Todos concordando com o famoso apresentador e com o seu longo dedo apontado para a ‘falta de educação’ de um passageiro e a sua autoproclamação de civilidade.
Na legenda da foto está entranhada a ideia de que os pobres não têm classe, não respeitam regras, não têm modos.
Está entranhado o senso comum de que os ricos sabem se portar e este senhor com o pé nas alturas ilustra que o dinheiro não o ensinou que tem de se comportar como os ricos. “Imagina… Gente rica não age assim.”
Num dos comentários, uma senhora dizia “Deve ter sido um upgrade.” Como se o cara não tivesse mesmo condições de estar ali. Óbvio! Isso explicaria o mal comportamento.
Aquilo mexeu comigo ao ponto de querer escrever imediatamente o meu ponto de vista.
Ninguém sabe o que o outro passa, o que o outro é.
Ninguém sabe o que se passa na cabeça de alguém que decide colocar o pé no braço da poltrona da frente. Não temos a informação da conta bancária dele.
Não tem como saber. E, mesmo se soubéssemos… quem somos nós para julgar?
Talvez essa pessoa pense que não há problema. Sinta muita dor nas pernas. Ou esteja num tratamento ortopédico para tratar um problema grave. Pode ser que ele seja mesmo um cuzão. Ou uma pessoa sem classe que não respeita o espaço onde está.
Mas, ao dar-se o trabalho de publicar uma foto no seu feed do Instagram com tal observação, o observador faz um julgamento de valor próprio e alheio. Fazendo uma tradução clara, é a mesma coisa que dizer: “Este homem, mesmo com dinheiro para estar no mesmo ambiente restrito e VIP que eu estou, não tem os mesmos modos que eu tenho. Pobre rapaz rico.”
Eu concordo que o dinheiro não compra uma porção de coisas.
Dentre elas, não compra o direito de apontar a falta de classe de alguém, associando isso ao fato dele ter pago caro no bilhete de avião. Não dá passe livre para a nossa prepotência de achar que somos mais bem criados ou que, necessariamente, a quantidade de dinheiro que temos indica o comportamento que devemos seguir.
Se seguíssemos a lógica do post do Manuel, como é no cenário inverso? “Lá na econômica deve ser uma zona. Pernas para todos os lados… Mas lá, tudo bem. Aqui não.”
Há coisas que o dinheiro não compra. Para todas as outras, existe um juízo de valor.
Foto: Alevision.co