Calma, me dê um voto de confiança e leia o texto todo até o fim. Se continuar com ódio no seu coração, eu mereci.
Não tenho lugar de fala (eu sei), nunca sofri qualquer tipo de discriminação.
Por isso, acho que tenho de ter humildade de aprender, de não me contentar com a primeira e mais conveniente definição de racismo e ouvir o que pessoas mais por dentro do tema têm à dizer. Já ouvi muitos debates sobre o tema, mas também fiz algumas buscas por conta.
Nas minhas pesquisas, tive um excelente aprendizado, o qual gostaria de partilhar aqui.
O que significa racismo?
Olhando com atenção no Priberam temos as seguintes definições:
ra·cis·mo |rà|
(raça + -ismo)
nome masculino
1. Teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outros, baseada num conceito de raça, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país ou região (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria.
Note que aqui fala-se em teoria, não atitude. Pelo que eu entendi é como se fosse da mesma categoria de fascismo, capitalismo, consumismo, ou seja, uma ideia de superiorioridade que se converte em atitude.
Encontramos também esta segunda definição:
2. Atitude ou comportamento sistematicamente hostil, discriminatório ou opressivo em relação a uma pessoa ou a um grupo de pessoas com base na sua origem étnica ou racial, em particular quando pertencem a uma minoria ou a uma comunidade marginalizada.
Repare que quando se trata de racismo, pode-se dizer que está ligado à um senso comum de que vivemos num mundo (injusto) onde há uma concepção, por conta de tudo o que a humanidade passou, de que existem grupos inferiores a outros e que foram marginalizados ou minoritários e, por conta disso, sofrem até hoje os efeitos. Mas também que trata-se de algo sistematizado.
Ou seja, não só negros sofrem racismo. Contudo para que seja considerado racismo, um determinado grupo tem de ter passado por condições semelhante às dos negros. Eu consigo imaginar aqui os indígenas como um exemplo. Acredito que em outras culturas que eu desconheço possam haver pessoas que pertencem a uma minoria ou a uma comunidade marginalizada historicamente e sofrem os efeitos até os dias de hoje. Por conta disso, de tratar-se de um grupo, é difícil dizer que existe um racismo isolado, num caso particular que parte de uma opinião individual.
Mas e quando um branco é discriminalizado?
Ele sofreu racismo?
No site Toda Matéria, a professora de história Juliana Bezerra diz que, embora o racismo esteja associado ao povo negro, outras raças também podem sofrer. No entanto:
É importante esclarecer que o racismo acontece dentro de um contexto histórico específico. Assim, nem todo insulto – embora seja sempre uma atitude condenável – será considerado racista.
O fato de um branco ser chamado de “palmito” ou “leite azedo” não se caracteriza como racista. A razão é que, no mundo moderno e contemporâneo, os brancos não foram subjugados, nem tratados como escravos.
Igualmente, não são tratados de forma diferenciada de maneira sistemática em ambientes como a publicidade, faculdades, e locais de trabalho em geral.
Isso não significa que a dor do branco seja menor, que ele não sofre com insultos, com discriminação. Só que não é racismo.
Muitas vezes um conceito tão complexo acaba por se reduzir a uma interpretação crua da palavra. Mesmo que tenhamos visto anteriormente que na própria definição já fale sobre o contexto histórico, nem sempre a interpretação é unânime. Por isso, vale cavar um pouquinho mais fundo.
Nas pesquisas, deparei com uma definição que despertou a minha atenção.
No site de Significados diz-se que:
Racismo é a discriminação social baseada na falsa ideia de que a espécie humana é dividida em raças e que uma é superior às outras. Trata-se de uma atitude depreciativa e discriminatória não baseada em critérios científicos, já que do ponto de vista biológico é incorreto falar em raças humanas.
No Priberam também encontramos este alerta sobre o termo raça:
ra·ça
(italiano razza)
nome feminino
1. Divisão tradicional de indivíduos cujos caracteres físicos biológicos são constantes e hereditários (ex.: raça amarela, raça branca, raça negra, raça vermelha). [Os progressos da genética levam hoje a rejeitar qualquer tentativa de classificação racial.]
Ou seja, o site faz uma ressalva de que com os avanços genéticos, nem seria mais correto categorizar alguém por raça.
No artigo do Prof. Dr. Kabengele Munanga (USP) ele diz:
No século XX, descobriu-se graças aos progressos da Genética Humana, que haviam no sangue critérios químicos mais determinantes para consagrar definitivamente a divisão da humanidade em raças estancas. Grupos de sangue, certas doenças hereditárias e outros fatores na hemoglobina eram encontrados com mais frequência e incidência em algumas raças do que em outras, podendo configurar o que os próprios geneticistas chamaram de marcadores genéticas. O cruzamento de todos os critérios possíveis ( o critério da cor da pele, os critérios morfológicos e químicos) deu origem a dezenas de raças, sub-raças e sub-sub-raças. As pesquisas comparativas levaram também à conclusão de que os patrimônios genéticos de dois indivíduos pertencentes à uma mesma raça podem ser mais distantes que os pertencentes à raças diferentes; um marcador genético característico de uma raça, pode, embora com menos incidência ser encontrado em outra raça. Assim, um senegalês pode, geneticamente, ser mais próximo de um norueguês e mais distante de um congolês, da mesma maneira que raros casos de anemia falciforme podem ser encontrados na Europa etc. Combinando todos esses desencontros com os progressos realizados na própria ciência biológica (genética humana, biologia molecular, bioquímica), os estudiosos desse campo de conhecimento chegaram a conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um conceito aliás cientificamente inoperante para explicar a diversidade humana e para dividi-la em raças estancas. Ou seja, biológica e cientificamente, as raças não existem.
A engenharia humana é tão perfeita, que todos somos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Não é possível criar categorias. Então, raça humana não existe.
E, embora seja uma estupidez negar a existência do racismo, é possível dizer que o que nos divide não é a biologia, são as concepções.
Repito: Raça não existe! Racismo existe!
Foto de capa: Alberto Bogo