Para todos os pontos que olho, vejo sempre as mesmas imagens.
Paisagens repetidas, poses perfeitas, pratos que não foram sequer provados.
Mas ficou tudo bem no clique.
Para todos os lados que me viro, nada de novo acontece. A vida está em falta.
Foi aos saldos e acabou todo o estoque.
Sorrisos calculados ficam à espera de um novo coração para fazer o inventário da audiência.
Acompanhei a viagem toda de fulano.
São histórias que garantem que todos saibam o quão bem sucedido ele está.
O hotel onde ficou, a praia que visitou e a sobremesa que mal deu tempo de saborear.
Nada ficou de fora. Agora todos já souberam e já avaliaram o que merece ou não atenção.
Pronto!
Já estou pronta para a próxima exibição de arte material.
Para onde quer que eu olhe, é tanto que vejo que nada parece bastar.
Talvez eu precise parar de ver estritamente o que se passa por aqui.
Aquilo que alguém que eu não conheço fez a curadoria por mim.
Se calhar, lá fora há vida em abundância.
Se calhar, sair daqui e viver calha-me melhor.
Foto:Bradley Dunn, Unsplash